segunda-feira, 2 de junho de 2014

ainda sobre aquilo


Na sequência do post anterior, e porque, como disse, considero que toda a violência deve ser falada, trazida a lume, discutida a alto e bom som, porque é a melhor forma de a erradicar, devo dizer que também eu já fui vítima de violência sexual - e desculpem lá, mas não incluo o piropo e o assobio dos homens das obras na categoria de violência sexual -, pelo simples facto de ter nascido mulher.

As situações foram duas, muito similares e até possivelmente perpetradas pela mesma pessoa, mas como em ambas era de noite e eu estava sozinha, assustada e a pensar como fazer para me escapar daquela, não tive o discernimento ou a ocasião de tirar matrículas, nem de recordar a cara do indivíduo para poder fazer queixa a quem de direito e diligenciar para que fosse castigado por aquele comportamento.

A primeira vez terá sido em 2009, a seguir ao Verão. Estava em Lisboa, a passar um fim-de-semana com uns amigos (na altura ainda não morava cá), mas a dormir sozinha numa casa. Findo o serão, apanhei o táxi, como tantas e tantas vezes já fiz sem qualquer problema. Ao chegar ao meu destino, já havia pensado que não era normal um senhor velhote, de poucos cabelos brancos, baixinho e calado, viesse a ouvir aquela música africana com letra demasiado explícita, mas achei só a situação um nadinha desconfortável. Depois, o caminho era curto e ele seguia-o sem grandes desvios. Chegados ao local onde ia ficar, ele pára o carro, eu pago, preparo-me para sair e ele sai ao mesmo tempo, com o pretexto de "me ajudar", a fazer o quê desconheço. Pois quando fechei a porta do táxi já ele estava a agarrar-se a mim e a tentar espetar-me com as beiças em cima e eu, ciente de que era de madrugada e não estava ali ninguém, desembaraçei-me, dei-lhe um valente empurrão e corri para a entrada da casa, onde me apressei a entrar. Senti um calafrio pelo que podia ter ali acontecido.

A segunda foi este ano, em Janeiro. Tive que vir para casa cedo de um jantar de aniversário, porque ia trabalhar às 08:00 da manhã do dia seguinte, Sábado. Mr. Splash! levou-me até ao táxi, despedimo-nos demasiado descontraídos para prestar atenção ao motorista e, a caminho já comigo sozinha no táxi, a história começou a ser demasiado familiar. Indivíduo velhote, baixinho, poucos cabelos restantes brancos, música africana. Sabem aquele instinto de gato em que até se eriçam os pelos na nuca? Pois foi assim. Agarrei nas chaves de casa como me ensinaram para me defender (serviço público: é agarrarem no porta chaves dentro do punho e colocarem cada chave a sair por entre os dedos como se fosse uma garra) e prossegui em silêncio. Ele também não dizia nada. Caminho normal e, quando chegamos junto à porta de minha casa, a mesma cantiga: deixe-me cá sair para a ajudar. Pois meu amigo, desta vez nem tiveste hipótese. Saí, sempre de frente para ele, ele também saiu e mal avançou na minha direcção já de braços ridículos estendidos para me agarrar, coloquei-lhe as mãos nos ombros (era mais baixo que eu, a meia leca! E eu meço 1,60 mts, embora devesse estar de saltos nesse dia) e digo-lhe "Nem pense nisso", ao mesmo tempo que lhe dou um chega para lá e agarro no telemóvel, dirigindo-me para casa, sempre a olhar por cima do ombro. Ele quando me viu de telemóvel na mão fugiu, o cobardolas. Estava toda a tremer, mas orgulhosa do meu sangue frio.

No meio disto tudo só lamento não ter tido a tranquilidade para tirar a matrícula da besta que, caso eu o tivesse feito, não teria mais um minuto de sossego até perder, pelo menos, o emprego.

Porque isto aconteceu comigo, sabendo eu que o mesmo e pior sucede todos os dias às minhas congéneres, contra a violência vista ela a roupagem que vestir, mas neste caso, especificamente, pelo combate à violência sexual contra as mulheres também digo a plenos pulmões: #Yesallwomen. 

Sem comentários:

Enviar um comentário