sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Sabem aqueles

Cabelos muito portugueses, compridos, castanho chocolate que depois de batidos pelo sol ganham reflexos meios acobreados meios dourados? Adoro.


Não são para mim, que já os tive assim e de tanto me dizerem que eu não era eu lá os deixei voltar ao seu louro Califórnia original, que condiz mais com a minha cara e personalidade. Mas é uma cor que gosto muito de ver nas nossas portuguesinhas. Por isso morenas, não inventem! Os vossos cabelos são lindos, cheios de tons ricos. As madeixas louras e a tinta de cabelo loura só ficam bem a quem já tiver um cabelo de origem claro - no máximo, castanho dourado.

Excepto se forem a Beyoncé - e mesmo assim tem dias.

Penso eu de que.

terça-feira, 1 de julho de 2014

todas as crianças deviam ter um cão

No veterinário, com Katekão. Entra senhora com filho de cerca de 4/5 anos e cadela pequena ao colo, aparentando ser mais velhinha que a criança. Terá uns 8/9 anos e tem, percebo, tosquia marcada para aquela hora. Na sala de espera:

Filho (claramente ansioso, mexendo-se na cadeira): Ela fica cá?
Mãe: Fica um bocadinho, vai cortar o pêlo e depois vimos buscá-la.
Filho: Não vai doer a ela?
Mãe: Não, não vai doer, é como quando cortas o cabelo, também não te dói, pois não?
Filho: E depois vimos buscá-la?
Mãe: Sim, depois é cortar as unhas e vamos todos para casa.
Filho (aflito): As unhas nããããooo!!!!

Ternura. Lá deixaram a bicha e passado 10 minutos, a tosquia ainda a começar, voltaram, sem dúvida por insistência daquela criança que, tão pequenina, já percebeu o que é o amor altruísta que só um animal (para além dos nossos pais, vá, mas desses é esperado) pode oferecer e ensinar. 

Por muito que os animais dêem trabalho - e como dão, sobretudo os cães! - o que entregam e ensinam em troca é tão valioso, que não me canso de defender: todas as crianças deviam ter um cão.

E depois há notícias como esta, que animam qualquer início de Julho, por mais farrusco que esteja o tempo (a sério São Pedro, it is Summer, you know?). Finalmente uma iniciativa muitíssimo valorosa por parte desta gente que nos governa!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

ainda sobre aquilo


Na sequência do post anterior, e porque, como disse, considero que toda a violência deve ser falada, trazida a lume, discutida a alto e bom som, porque é a melhor forma de a erradicar, devo dizer que também eu já fui vítima de violência sexual - e desculpem lá, mas não incluo o piropo e o assobio dos homens das obras na categoria de violência sexual -, pelo simples facto de ter nascido mulher.

As situações foram duas, muito similares e até possivelmente perpetradas pela mesma pessoa, mas como em ambas era de noite e eu estava sozinha, assustada e a pensar como fazer para me escapar daquela, não tive o discernimento ou a ocasião de tirar matrículas, nem de recordar a cara do indivíduo para poder fazer queixa a quem de direito e diligenciar para que fosse castigado por aquele comportamento.

A primeira vez terá sido em 2009, a seguir ao Verão. Estava em Lisboa, a passar um fim-de-semana com uns amigos (na altura ainda não morava cá), mas a dormir sozinha numa casa. Findo o serão, apanhei o táxi, como tantas e tantas vezes já fiz sem qualquer problema. Ao chegar ao meu destino, já havia pensado que não era normal um senhor velhote, de poucos cabelos brancos, baixinho e calado, viesse a ouvir aquela música africana com letra demasiado explícita, mas achei só a situação um nadinha desconfortável. Depois, o caminho era curto e ele seguia-o sem grandes desvios. Chegados ao local onde ia ficar, ele pára o carro, eu pago, preparo-me para sair e ele sai ao mesmo tempo, com o pretexto de "me ajudar", a fazer o quê desconheço. Pois quando fechei a porta do táxi já ele estava a agarrar-se a mim e a tentar espetar-me com as beiças em cima e eu, ciente de que era de madrugada e não estava ali ninguém, desembaraçei-me, dei-lhe um valente empurrão e corri para a entrada da casa, onde me apressei a entrar. Senti um calafrio pelo que podia ter ali acontecido.

A segunda foi este ano, em Janeiro. Tive que vir para casa cedo de um jantar de aniversário, porque ia trabalhar às 08:00 da manhã do dia seguinte, Sábado. Mr. Splash! levou-me até ao táxi, despedimo-nos demasiado descontraídos para prestar atenção ao motorista e, a caminho já comigo sozinha no táxi, a história começou a ser demasiado familiar. Indivíduo velhote, baixinho, poucos cabelos restantes brancos, música africana. Sabem aquele instinto de gato em que até se eriçam os pelos na nuca? Pois foi assim. Agarrei nas chaves de casa como me ensinaram para me defender (serviço público: é agarrarem no porta chaves dentro do punho e colocarem cada chave a sair por entre os dedos como se fosse uma garra) e prossegui em silêncio. Ele também não dizia nada. Caminho normal e, quando chegamos junto à porta de minha casa, a mesma cantiga: deixe-me cá sair para a ajudar. Pois meu amigo, desta vez nem tiveste hipótese. Saí, sempre de frente para ele, ele também saiu e mal avançou na minha direcção já de braços ridículos estendidos para me agarrar, coloquei-lhe as mãos nos ombros (era mais baixo que eu, a meia leca! E eu meço 1,60 mts, embora devesse estar de saltos nesse dia) e digo-lhe "Nem pense nisso", ao mesmo tempo que lhe dou um chega para lá e agarro no telemóvel, dirigindo-me para casa, sempre a olhar por cima do ombro. Ele quando me viu de telemóvel na mão fugiu, o cobardolas. Estava toda a tremer, mas orgulhosa do meu sangue frio.

No meio disto tudo só lamento não ter tido a tranquilidade para tirar a matrícula da besta que, caso eu o tivesse feito, não teria mais um minuto de sossego até perder, pelo menos, o emprego.

Porque isto aconteceu comigo, sabendo eu que o mesmo e pior sucede todos os dias às minhas congéneres, contra a violência vista ela a roupagem que vestir, mas neste caso, especificamente, pelo combate à violência sexual contra as mulheres também digo a plenos pulmões: #Yesallwomen. 

sobre aquilo da violência de género


Violência é violência e nada mais gera do que violência, seja qual for o género do seu perpetrador.

A violência de género existe, e de que maneira, mas não é um exclusivo das mulheres-vítimas. Deve continuar a falar-se, claro, a dizer-se a alto e bom som que não se admite, a contestar quem diz "ela é que estava a pedi-las", a fazer a nossa parte para acabar com as piadinhas estúpidas de "loiras burras". E por isso campanhas que incitem a falar, a vir a público, a exorcizar os demónios e a começar de novo são sempre uma coisa boa.

Mas as pessoas não são monstros e não podem ser tratados como qual. Alguns homens (e algumas mulheres) são violentos, porque foram violentos com eles, porque lhes ensinaram que a violência é uma resposta válida, mas raramente porque sim, e usam a sua força (física ou psicológica) para manter outros seres humanos, geralmente aqueles que lhes são mais próximos, num clima de terror e pânico constantes. É uma realidade lamentável que tem de ser combatida e, de facto, tem vindo a sê-lo. É preciso ir cada vez mais à raiz do problema - no nosso país, o álcool, o isolamento e a educação são as grandes causas da violência doméstica - e trabalhá-lo a partir daí, com força e empenho. 

No entanto, a generalização é algo que me assusta. Nos meios "feministas", e conheço-os bem, tende-se a demonizar o homem, todos (ou quase todos) os homens são agressores, todos (ou quase todos) os homens são maus, exploradores, cruéis, naturalmente neandertais que apenas pretendem fazer das pobres namoradas/mulheres/companheiras tristes criadas batidas e sofridas. Pois, só que não. Por coisas cá da minha vida profissional tenho visto muitos casos de violência doméstica, contra mulheres e contra homens, sendo que a causa que mais impede o homem de se chegar à frente e queixar-se é a vergonha. A vergonha de "apanhar de uma mulher" geralmente mais fraca fisicamente mas com um ascendente psicológico brutal sobre aquela pessoa, de ser "um pau mandado", de ficar "mal visto" perante os colegas e amigos, perante a sociedade em geral. E essa tortura psicológica é um verdadeiro inferno para as vítimas. 

Este tipo de violência, contra os homens, é tão má e merecedora de ser combatida como a outra, não me lixem. Aquela pessoa é tão digna, é tão pessoa como uma mulher-vítima e merece ser tratada com a dignidade que devemos a todos os seres humanos e em especial à minoria de que estes homens e mulheres fazem parte: a minoria das vítimas.

Por isso é que eu não me considero feminista (querendo com isto dizer que não me considero superior a ninguém por ter nascido mulher, que isso de entender que as mulheres devem ser tratadas de forma igual aos homens não é feminismo, é senso comum), muito menos machista. Sou mais uma "vitimista". Uma "pessoista". Uma humanista, acho que era isso.

Parece-me que aquilo que quem tem vindo por essa blogosfera fora a dizer, e bem, que o mundo é mau e injusto e perigoso para todos quer dizer é que as mulheres não são vítimas maiores. Todas as vítimas são vítimas daquilo que as vitimar e merecem igual tratamento e consideração por isso.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

sobre a fotografia do post anterior

Foi tirada ainda agora no preciso local em que o meu bisavô tinha, em tempos idos, o seu atelier, do qual só me lembro das madrepérolas e dos cheiros misturados da cola e da madeira. 
Que é como quem diz que a vida não é nada em linha recta, mas circular e que voltamos sempre para de onde viemos, procuramos em tudo o que é novo aquilo que já conhecemos e amamos, encontramo-nos sem querer no que já temos cá dentro.

a cidade que me adoptou


Lisboa está no seu melhor ao sol e à tarde. Nessas longas tardes em que tudo é branco e o sol parece que sobra e pinga das fachadas, vindo a derramar-se, lânguido, nas pedras da calçada é que Lisboa é mais Lisboa. Cidade que é capital e fala inglês, francês, alemão, espanhol, chinês. Cidade que traz uma máquina fotográfica na mão enquanto passeia pela Rua Augusta e cujo coração salta ali uma batida quando, no cruzamento, se depara com o elevador de Santa Justa. Depois há o azul desse imenso espelho de água, rio que é mar, que é Tejo e que viaja permanentemente nos olhos dos lisboetas, dos genuínos e dos emprestados, como eu. Cidade que tudo tinha para ser alegre, tem por vocação uma melancolia que, ali nos becos e nas escadinhas de Alfama, chega a ser audível. É quase demasiado bonita no seu esplendor de mangerico.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

pi

Cheguei a casa e está a dar num dos canais por cabo A Vida de Pi, filme de 2012 realizado por Ang Lee. É um filme que vi no cinema na altura e, agora que está a dar na TV, vou aproveitar para rever naquela coisa claramente inventada pelo demo e destinada a que nunca tiremos os rabos do sofá nas gravações automáticas. 

É um dos filmes mais bonitos que já vi, com planos absolutamente maravilhosos, que conta uma história cheia de magia e elementos simbólicos acerca da força interior que habita dentro de cada um nós. 


OCD

Sou absolutamente obcecada por listas. 

Listas de compras, listas de afazeres, listas dos ingredientes que compõem o menu do jantar. Listas de presentes, organizadas por pessoas, por sua vez agrupadas por núcleos (família daqui, amigos, família de acolá, cão). Listas de cidades que gostava de ver. Listas dos lugares a visitar na próxima viagem. Listas enormes de prós e contras para qualquer decisão importante. Listas das coisas para meter na mala de férias.

Adoro fazê-las e ainda mais cumpri-las. Cada certinho junto a um item da lista é um coro de anjos a cantar na minha cabeça. O hino da alegria ou algo assim vitorioso. Não, esperem. O Charriots of Fire. Sim, o do Vangelis. 

Outro dia uma colega gravidíssima mostrou-me a lista de coisas que tem de levar para a maternidade quando fôr ter o bebé. Era uma lista enorme e complicada, contendo elementos estranhos como "discos de amamentação". Com itens específicos, tipo "camisa de noite que abra à frente" e "cuecas descartáveis". Fiquei maravilhada. Aquilo implica compromisso! Mais dia menos dia tenho que pensar nisto com Senhor Splash!.


the unbearable lightness of being

Alguém mais acha que devia ser "a insustentável leveza de ser" e não "do ser"?

Não? Estou só?

o zoo faz anos


Hoje o Jardim Zoológico de Lisboa faz 130 anos! Cento e trinta, uma provecta idade para uma instituição que, para mim pequena filha dos anos 80, existe desde sempre ali em Sete Rios. Do zoo guardo belas memórias da primeira vez que vi um koala e um pinguim e uma girafa e um elefante. Trouxe um peluche gigante que abracei durante a viagem de 180 quilómetros que separam a capital da minha cidade natal e os olhos de menina a brilhar com todo aquele encantamento. O meu amor imenso pelos bichos vem também desses dias, desses primeiros contactos com o mundo animal.

O zoo de Lisboa faz as delícias de miúdos e graúdos desde sempre. Ria-me a bandeiras despregadas quando o meu pai contava a história daquela vez em que o orangotango esteve cerca de 30 segundos a abanar-se junto às grades, enquanto criava uma gigante bola de cuspo que finalmente despejou na cara rechonchuda da minha tia, irmã mais velha dele, que teria uns sete anos, ali na segunda metade dos anos 60. 

Entre as pessoas que, como eu, gostam verdadeiramente de animais e que defendem que eles devem ser tratados, pela lei e pela sociedade, como seres sencientes que são e não como objectos, ao contrário do que actualmente acontece no nosso país (a coisa vai indo, devagarinho, demasiado devagarinho) a questão dos jardins zoológicos é controversa. Defende-se que os animais não devem ser usados para o nosso entretenimento e compara-se a existência de zoos à dos circos, por exemplo. Mas aqui (como em muitas outras coisas, que eu não gosto de fundamentalismos e acho que o fundamentalismo é um dos grandes inimigos da causa animal), tenho de discordar. No circo os animais são mantidos em condições horríveis, jaulas minúsculas, alimentação desadequada, são "tratados" por negociantes sem a mínima formação para cuidar deles, viajam constantemente de um lado para o outro encafuados em atrelados, os cuidados veterinários são muito deficientes, são maltratados, chicoteados, gritam com eles para os obrigar a fazer "truques", não há um resquício de carinho nem amor na forma como lidam com esses pobres animais. Tudo em nome de um negócio, de um "espetáculo" que é absolutamente deprimente, com os pobres bichos selvagens a fazerem acrobacias contra-natura e a darem voltas numa arena para gáudio de um bando de ignorantes que não pensam sequer, nem querem saber, para o que estão a dar o seu dinheiro. Por isso há muito tempo (mais de 20, talvez 25 anos) que não vou a circos com animais, jurei nunca mais ir, nem levar lá os filhos que venha a ter. É que eu tenciono ensiná-los a respeitar e amar os animais e não me parece que o circo transmita nada disso. Farei sempre campanha para que tais práticas sejam abolidas e criminalizadas.

No zoo tudo é muito diferente, tirando os espetáculos de golfinhos e afins que para mim ficam ali numa zona cinzenta (embora tenha a certeza que nenhum animal é maltratado ou abusado na preparação de tais espetáculos, mas faz-me um bocadinho de confusão estar ali a ver os bichos fazerem acrobacias que não fazem na sua vida em liberdade). Está certo, os animais seriam mais felizes no seu habitat natural e ali estão, efectivamente, expostos para contemplação pelos humanos. Mas, como toda a gente que se interessa por estes assuntos sabe, há muito que os habitats deixaram de ser portos de abrigo seguros para os animais. Todos os dias há, por exemplo, grandes mamíferos encontrados mortos por caçadores furtivos em África. E pior, supostas "reservas" que organizam caçadas aos seus animais, gente sem coração. Na Ásia quase já não há tigres e onde outrora havia milhares de elefantes, como no Laos, hoje há uma, duas centenas, vítimas de mercenários e de muitos anos de trabalhos forçados. As focas e pinguins no Ártico é a chacina que se sabe. Por isso não me parece que manter espécies em cativeiro, desde que lhes sejam assegurados todos os cuidados veterinários, de alimentação, de criação de um ambiente o mais semelhante possível com o seu, onde eles estejam seguros e bem tratados, seja minimamente censurável.

Além do mais, os zoos, inclusive o de Lisboa, têm feito um trabalho notável na conservação das espécies, promovendo o acasalamento de espécies que é cada vez mais difícil senão impossível no mundo animal fora de cativeiro. O zoo de Lisboa faz parte de uma série de programas de conservação com resultados excelentes, para os quais contribuímos cada vez que compramos um ingresso (e até faz doer menos o preço, que de facto é elevado). Toda a gente fica alegre quando nasce um novo bebé no zoo! 

Da mesma maneira que o zoo de hoje não é o mesmo das minhas primeiras visitas de menina. Recordo-me que, nos idos 80's/90's, havia um elefante treinado para tocar um sino em troca de um amendoim ou de uma moeda que os visitantes lhe dessem. Por mais amoroso e divertido para as crianças que isso fosse, hoje o pessoal do zoo já tem outra abordagem e não há cá animais treinados para fazer truques que agradem aos humanos. Pretende-se que o comportamento animal do zoo seja o mais semelhante possível ao seu comportamento natural. As barras de ferro deram lugar a painéis de fibra de vidro, as jaulas a áreas amplas com simulação de ambiente natural, tudo em nome do bem estar dos animais.

Depois há a vertente informativa, que hoje em dia no zoo - estive lá há cerca de 2 anos pela última vez - é excelente para quem gosta da natureza, criança ou não, explicando com pormenor o número de exemplares daquela espécie que existem fora de cativeiro, o risco de extinção, o local do planeta de onde vêm e curiosidades sobre a espécie.

E finalmente há as pessoas. Quem trabalha no zoo fá-lo com gosto e certamente não será pelos salários milionários que ali se pagam (ou não). Nota-se nas pessoas responsáveis, dos tratadores aos executivos, que o que motiva esse trabalho é o amor aos animais, envidando esforços para que todos os dias eles sejam bem cuidados, estimados e felizes. E isso, meus meninos, isso faz toda a diferença!

Mais sobre o Jardim Zoológico de Lisboa aqui

Parabéns Zoo de Lisboa!!.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

desaparecidas em combate

Anda uma pessoa a fazer um esforço para ser mais saudável, comer melhor rebéubéubéu pardais ao ninho, calcorreia corredores de hiper e supermercados, observa, levanta e torna a pôr, faz duas vezes o mesmo caminho, carrinho para a frente e para trás, conclui que com tanto exercício já nem vale a pena ir ao ginásio - hey, tudo é uma boa desculpa para auto boicotar o exercício - e delas nem sinal. É que nem frescas, como se desejaria, nem congeladas, nem de forma nenhuma. E isto de uma pessoa até gostar de um legume é coisa rara e de aproveitar e não o encontrar em lugar algum indica uma clara conspiração do universo contra nós.

Ervilhas de quebrar, como diz o meu hubby, também conhecidas como ervilhas tortas - cadê?
Quem as vir avise, ófaxabor!


as eleições #2

Acho que o Tozé tinha preparado um discurso para outro resultado (que era o mínimo que se exigia) e nem se deu ao trabalho de o mudar.

#vergonhaalheia #twilightzone

as eleições.

Marinho e Marine...

União Europeia, quo vadis?

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Que nome se dá ao plano para fugir deste restaurante sem pagar?



Ocean's Eleven.

O bolo

Antigamente ela, com as mãozinhas sapudas, rapava a tijela. A Mãe entregava-lhe uma grande taça de plástico - daquele bom, que não cheirava a loja do chinês - e o salazar de cabo de madeira e topo de plástico quadrado e era vê-la deliciada, toda lambuzada, nos banquinhos da cozinha, a rapar, a rapar, a rapar até já não sobrar nenhum risquinho da deliciosa massa do bolo.
Antes dela nascer, a Mãe já fazia o bolo e era o que ela mais gostava de fazer e de comer. O seu bolo preferido. Diziam-lhe que tinha mão para ele, que ninguém o fazia como ela, então repetia a receita, uma e outra vez, a pedidos. Fazia-o para os irmãos, para o namorado que depois foi marido, para a sogra, para os amigos. Fazia-o para ela própria. Depois fazia-o para a filha e nunca tinha gostado assim tanto de fazer o bolo como quando aquela mini-ela se sentava ali, a rapar a taça.
A filha, e uma vez que o tempo não tem misericórdia das Mães e nunca pára de passar, acabou por crescer e, quando já tinha idade para mexer no forno, ensinou-a a fazer o bolo. Tinha a mesma mão da Mãe, pelo que, depois de alguns acidentes devidas à pouca paciência de uma adolescente para untar a forma, o bolo começou a sair bem. Mesmo bem. Até chegou, uma vez em 2013, a sair absolutamente perfeito, igualzinho ao da figura da receita.
Desde que a filha aprendeu a fazer o bolo, que a Mãe só o faz em conjunto com ela e quando estão juntas. Em Maio de cada ano, a filha faz sempre dois bolos: um para os anos da Mãe, outro para os anos do marido. É que calhou por magia conspirativa do destino, e porque as coisas são mesmo assim, que o bolo também seja o preferido do marido da filha. Quando o faz, olhando para a receita só por hábito - como se a não soubesse de cor -, a filha/mulher coloca nele todo o amor que conhece e que é tanto, tanto, que fazer aquele bolo se revela, às vezes, até um bocado avassalador. Uma experiência nostálgica mas cheia de promessas para o futuro. Enche-lhe o coração ouvir da família que tem a mesma mão da Mãe para o bolo. Ela já não usa salazar, mas descobriu que uma colher de sopa faz praticamente o mesmo efeito, desde que utilizada com mestria. Depois de colocar o bolo no forno, deixando de propósito um bocadinho de massa a mais, ela senta-se à mesa, com a tijela e a colher nas mãos já não tão sapudas, e rapa a taça até já não sobrar nenhum risquinho da deliciosa massa de bolo. O bolo sabe-lhe à própria vida e ao passar do tempo, aos joelhos esfolados curados com beijinhos, à primeira vez que os seus olhos se cruzaram com os dele.

porque é que o mundo dos livros é melhor cójoutros?