segunda-feira, 2 de junho de 2014

sobre aquilo da violência de género


Violência é violência e nada mais gera do que violência, seja qual for o género do seu perpetrador.

A violência de género existe, e de que maneira, mas não é um exclusivo das mulheres-vítimas. Deve continuar a falar-se, claro, a dizer-se a alto e bom som que não se admite, a contestar quem diz "ela é que estava a pedi-las", a fazer a nossa parte para acabar com as piadinhas estúpidas de "loiras burras". E por isso campanhas que incitem a falar, a vir a público, a exorcizar os demónios e a começar de novo são sempre uma coisa boa.

Mas as pessoas não são monstros e não podem ser tratados como qual. Alguns homens (e algumas mulheres) são violentos, porque foram violentos com eles, porque lhes ensinaram que a violência é uma resposta válida, mas raramente porque sim, e usam a sua força (física ou psicológica) para manter outros seres humanos, geralmente aqueles que lhes são mais próximos, num clima de terror e pânico constantes. É uma realidade lamentável que tem de ser combatida e, de facto, tem vindo a sê-lo. É preciso ir cada vez mais à raiz do problema - no nosso país, o álcool, o isolamento e a educação são as grandes causas da violência doméstica - e trabalhá-lo a partir daí, com força e empenho. 

No entanto, a generalização é algo que me assusta. Nos meios "feministas", e conheço-os bem, tende-se a demonizar o homem, todos (ou quase todos) os homens são agressores, todos (ou quase todos) os homens são maus, exploradores, cruéis, naturalmente neandertais que apenas pretendem fazer das pobres namoradas/mulheres/companheiras tristes criadas batidas e sofridas. Pois, só que não. Por coisas cá da minha vida profissional tenho visto muitos casos de violência doméstica, contra mulheres e contra homens, sendo que a causa que mais impede o homem de se chegar à frente e queixar-se é a vergonha. A vergonha de "apanhar de uma mulher" geralmente mais fraca fisicamente mas com um ascendente psicológico brutal sobre aquela pessoa, de ser "um pau mandado", de ficar "mal visto" perante os colegas e amigos, perante a sociedade em geral. E essa tortura psicológica é um verdadeiro inferno para as vítimas. 

Este tipo de violência, contra os homens, é tão má e merecedora de ser combatida como a outra, não me lixem. Aquela pessoa é tão digna, é tão pessoa como uma mulher-vítima e merece ser tratada com a dignidade que devemos a todos os seres humanos e em especial à minoria de que estes homens e mulheres fazem parte: a minoria das vítimas.

Por isso é que eu não me considero feminista (querendo com isto dizer que não me considero superior a ninguém por ter nascido mulher, que isso de entender que as mulheres devem ser tratadas de forma igual aos homens não é feminismo, é senso comum), muito menos machista. Sou mais uma "vitimista". Uma "pessoista". Uma humanista, acho que era isso.

Parece-me que aquilo que quem tem vindo por essa blogosfera fora a dizer, e bem, que o mundo é mau e injusto e perigoso para todos quer dizer é que as mulheres não são vítimas maiores. Todas as vítimas são vítimas daquilo que as vitimar e merecem igual tratamento e consideração por isso.

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