quarta-feira, 28 de maio de 2014

o zoo faz anos


Hoje o Jardim Zoológico de Lisboa faz 130 anos! Cento e trinta, uma provecta idade para uma instituição que, para mim pequena filha dos anos 80, existe desde sempre ali em Sete Rios. Do zoo guardo belas memórias da primeira vez que vi um koala e um pinguim e uma girafa e um elefante. Trouxe um peluche gigante que abracei durante a viagem de 180 quilómetros que separam a capital da minha cidade natal e os olhos de menina a brilhar com todo aquele encantamento. O meu amor imenso pelos bichos vem também desses dias, desses primeiros contactos com o mundo animal.

O zoo de Lisboa faz as delícias de miúdos e graúdos desde sempre. Ria-me a bandeiras despregadas quando o meu pai contava a história daquela vez em que o orangotango esteve cerca de 30 segundos a abanar-se junto às grades, enquanto criava uma gigante bola de cuspo que finalmente despejou na cara rechonchuda da minha tia, irmã mais velha dele, que teria uns sete anos, ali na segunda metade dos anos 60. 

Entre as pessoas que, como eu, gostam verdadeiramente de animais e que defendem que eles devem ser tratados, pela lei e pela sociedade, como seres sencientes que são e não como objectos, ao contrário do que actualmente acontece no nosso país (a coisa vai indo, devagarinho, demasiado devagarinho) a questão dos jardins zoológicos é controversa. Defende-se que os animais não devem ser usados para o nosso entretenimento e compara-se a existência de zoos à dos circos, por exemplo. Mas aqui (como em muitas outras coisas, que eu não gosto de fundamentalismos e acho que o fundamentalismo é um dos grandes inimigos da causa animal), tenho de discordar. No circo os animais são mantidos em condições horríveis, jaulas minúsculas, alimentação desadequada, são "tratados" por negociantes sem a mínima formação para cuidar deles, viajam constantemente de um lado para o outro encafuados em atrelados, os cuidados veterinários são muito deficientes, são maltratados, chicoteados, gritam com eles para os obrigar a fazer "truques", não há um resquício de carinho nem amor na forma como lidam com esses pobres animais. Tudo em nome de um negócio, de um "espetáculo" que é absolutamente deprimente, com os pobres bichos selvagens a fazerem acrobacias contra-natura e a darem voltas numa arena para gáudio de um bando de ignorantes que não pensam sequer, nem querem saber, para o que estão a dar o seu dinheiro. Por isso há muito tempo (mais de 20, talvez 25 anos) que não vou a circos com animais, jurei nunca mais ir, nem levar lá os filhos que venha a ter. É que eu tenciono ensiná-los a respeitar e amar os animais e não me parece que o circo transmita nada disso. Farei sempre campanha para que tais práticas sejam abolidas e criminalizadas.

No zoo tudo é muito diferente, tirando os espetáculos de golfinhos e afins que para mim ficam ali numa zona cinzenta (embora tenha a certeza que nenhum animal é maltratado ou abusado na preparação de tais espetáculos, mas faz-me um bocadinho de confusão estar ali a ver os bichos fazerem acrobacias que não fazem na sua vida em liberdade). Está certo, os animais seriam mais felizes no seu habitat natural e ali estão, efectivamente, expostos para contemplação pelos humanos. Mas, como toda a gente que se interessa por estes assuntos sabe, há muito que os habitats deixaram de ser portos de abrigo seguros para os animais. Todos os dias há, por exemplo, grandes mamíferos encontrados mortos por caçadores furtivos em África. E pior, supostas "reservas" que organizam caçadas aos seus animais, gente sem coração. Na Ásia quase já não há tigres e onde outrora havia milhares de elefantes, como no Laos, hoje há uma, duas centenas, vítimas de mercenários e de muitos anos de trabalhos forçados. As focas e pinguins no Ártico é a chacina que se sabe. Por isso não me parece que manter espécies em cativeiro, desde que lhes sejam assegurados todos os cuidados veterinários, de alimentação, de criação de um ambiente o mais semelhante possível com o seu, onde eles estejam seguros e bem tratados, seja minimamente censurável.

Além do mais, os zoos, inclusive o de Lisboa, têm feito um trabalho notável na conservação das espécies, promovendo o acasalamento de espécies que é cada vez mais difícil senão impossível no mundo animal fora de cativeiro. O zoo de Lisboa faz parte de uma série de programas de conservação com resultados excelentes, para os quais contribuímos cada vez que compramos um ingresso (e até faz doer menos o preço, que de facto é elevado). Toda a gente fica alegre quando nasce um novo bebé no zoo! 

Da mesma maneira que o zoo de hoje não é o mesmo das minhas primeiras visitas de menina. Recordo-me que, nos idos 80's/90's, havia um elefante treinado para tocar um sino em troca de um amendoim ou de uma moeda que os visitantes lhe dessem. Por mais amoroso e divertido para as crianças que isso fosse, hoje o pessoal do zoo já tem outra abordagem e não há cá animais treinados para fazer truques que agradem aos humanos. Pretende-se que o comportamento animal do zoo seja o mais semelhante possível ao seu comportamento natural. As barras de ferro deram lugar a painéis de fibra de vidro, as jaulas a áreas amplas com simulação de ambiente natural, tudo em nome do bem estar dos animais.

Depois há a vertente informativa, que hoje em dia no zoo - estive lá há cerca de 2 anos pela última vez - é excelente para quem gosta da natureza, criança ou não, explicando com pormenor o número de exemplares daquela espécie que existem fora de cativeiro, o risco de extinção, o local do planeta de onde vêm e curiosidades sobre a espécie.

E finalmente há as pessoas. Quem trabalha no zoo fá-lo com gosto e certamente não será pelos salários milionários que ali se pagam (ou não). Nota-se nas pessoas responsáveis, dos tratadores aos executivos, que o que motiva esse trabalho é o amor aos animais, envidando esforços para que todos os dias eles sejam bem cuidados, estimados e felizes. E isso, meus meninos, isso faz toda a diferença!

Mais sobre o Jardim Zoológico de Lisboa aqui

Parabéns Zoo de Lisboa!!.

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